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Fonoterapia intensiva: melhora da fala e aprendizado

Módulo com residentes e pós-graduandos reuniu 12 pacientes de 10 a 27 de julho, no HRAC/Centrinho-USP

O esforço de deixar a filha de três anos aos cuidados do pai e da avó em Maringá (PR) – a cerca de 400 quilômetros de Bauru – por três semanas valeu a pena. Esse foi o sentimento expresso pela paciente Aline Aparecida Sgrignoli, de 24 anos. Nascida com fissura palatina, foi a primeira vez que Aline participou do Programa de Fonoterapia Intensiva (PFI) no HRAC/Centrinho-USP.

“Eu não conseguia falar direito algumas palavras, como ‘grata’, ‘obrigada’. Eu converso com todo mundo, mas essa dificuldade era um incômodo. E esse trabalho foi importante para eu aprender a falar melhor, mais devagar, e pensar antes de falar. Foi muito melhor do que eu imaginava. Para o meu dia a dia será muito bom. O incômodo melhorou, mas eu quero melhorar ainda mais”, relata.

Aline e mais 11 pacientes entre 5 e 33 anos foram atendidos em mais um módulo do PFI, realizado durante três semanas, de 10 a 27 de julho. Os 12 pacientes eram provenientes das cinco regiões do país, dos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo (Sudeste), Paraná (Sul), Mato Grosso do Sul (Centro-Oeste), Rio Grande do Norte (Nordeste) e Amazonas (Norte).

Sarah Vidotti Saad da Rocha, mãe da paciente Pietra Vidotti da Rocha, de 5 anos, de Americana (SP), que também participou do Programa pela primeira vez, afirma que está saindo “super feliz, com uma nova fala e uma nova prótese”. Pietra nasceu com fissura labiopalatina e usa prótese de palato, um aparelho bucal removível utilizado quando o palato não apresenta tecido suficiente para a realização do fechamento velofaríngeo para a fala.

“De todas as letras e palavras que foram trabalhadas, percebi melhora em todas. O ‘T’, o ‘Pã’, o ‘Bã’, o ‘Dã’. Aos finais de semanas nós voltávamos para nossa cidade, então meu marido e as pessoas que a ouviram nesse tempo também perceberam melhora na fala dela. Apesar de ser a mais novinha, a Pietra tratou isso como uma grande brincadeira. As fonoaudiólogas trataram de uma maneira muito tranquila, leve, deixando ela muito à vontade e respeitando o seu tempo. Então ela vinha com muito prazer”, conta Sarah.

Presente no último dia do Programa, a fonoaudióloga de Pietra em Americana, Amanda Molina Moura, pontuou que “o objetivo de vir um dia acompanhar essa equipe toda focada numa terapia específica para paciente com prótese de palato é poder aprender e aplicar as técnicas na continuidade da terapia em nossa cidade”.

Já para a fonoaudióloga Franciele Fumagali, residente do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde – Síndromes e Anomalias Craniofaciais do HRAC-USP, que atua em seu sexto módulo do PFI, “a evolução dos pacientes é muito boa e o aprendizado também é intensivo”.

“Na graduação, fazemos uma terapia apenas, uma ou duas vezes por semana. Aqui a gente vê o paciente quatro vezes por dia, todos os dias, durante três semanas, fora os exercícios em casa. O que seria trabalhado em um ano, conseguimos ganhos num curto período de tempo. Trabalhamos desde o som isolado que o paciente tem dificuldade até a fala espontânea, é muito gratificante”, completa Franciele.

O Programa
Este segundo módulo do Programa de Fonoterapia Intensiva no ano foi organizado pela equipe de Prótese de Palato, para correção dos distúrbios de fala de pacientes que utilizam a prótese de palato como alternativa na reabilitação.

A partir da esquerda: Homero, Maria Daniela, Melina e Mônica, da equipe de Prótese de Palato do HRAC-USP

“O objetivo é propiciar um enfoque direto e intensivo nos distúrbios da comunicação apresentados, para uma melhora na inteligibilidade de fala, e assim possibilitar melhores chances de integração na comunidade, com a facilitação de suas relações interpessoais e inserção escolar e no mercado de trabalho”, explica a fonoaudióloga Melina Evangelista Whitaker Siécola, uma das coordenadoras deste módulo do PFI. “Esse Programa tem se mostrado uma alternativa eficaz e viável nesses casos, uma vez que todos os pacientes participantes desse tratamento, até o momento, tiveram evolução satisfatória”.

Segundo a fonoaudióloga Maria Daniela Borro Pinto, que também coordenou este módulo, “a fonoterapia intensiva para pacientes com anomalias craniofaciais pode ser a única oportunidade para a melhora de fala, uma vez que em vários municípios do Brasil ainda não há profissionais habilitados para tratar tais distúrbios”. “Além disso, os alunos de graduação e pós-graduação passam por um processo de ensino-aprendizagem, de forma interativa por meio de observações, atuações e discussões das práticas clínicas, com auxílio de preceptores com alta qualificação e experiência”, ressalta.

Desde 2012, todos os anos são realizados dois módulos do PFI, em parceria com o curso de Fonoaudiologia da FOB-USP, por meio da disciplina Clínica de Anomalias Craniofaciais – Estágio Supervisionado, sob a coordenação das professoras Maria Inês Pegoraro-Krook e Jeniffer de Cássia Rillo Dutka, do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade, com a participação de alunos de graduação, pós-graduação e residência multiprofissional e envolvimento de vários setores do HRAC-USP, incluindo a Divisão de Odontologia e Seção de Fonoaudiologia. Para os estudantes da área de Fonoaudiologia da Residência Multiprofissional em Saúde – Síndromes e Anomalias Craniofaciais, o Programa integra a disciplina Fonoterapia Intensiva, sendo que no primeiro módulo do ano eles atuam como supervisor de casos da graduação, e, no segundo módulo do ano, como terapeutas.

Esse módulo do PFI também contou com a atuação dos cirurgiões-dentistas Homero Carneiro Aferri e Mônica Moraes Waldemarin Lopes, da equipe de Prótese de Palato, nas manutenções e modificações das próteses, além da participação de seis residentes de Fonoaudiologia do HRAC e graduandos do curso de Fonoaudiologia da FOB-USP, na observação.

(Reportagem e fotos: Tiago Rodella, Assessoria de Imprensa HRAC/USP-Bauru)