Premiação integrou a programação do Dia Internacional da Mulher Negra Latina e Caribenha em Bauru, na qual foram homenageadas 12 mulheres bauruenses, entre elas Elisabeth de Oliveira Bonfim, assistente social do HRAC-USP
Foi realizada, no dia 26 de julho de 2022, a primeira edição do Prêmio “Tereza de Benguela”, na Secretaria de Cultura. O evento foi realizado pelo Conselho Municipal da Comunidade Negra de Bauru em parceria com coletivo Formando Mentes Coletivas, Movimento Negro Unificado de Lins e com apoio da Secretaria Municipal de Cultura.
A premiação integrou a programação do Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra e Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, data instituída em 25 de julho de 2014. No evento desta terça-feira foram homenageadas 12 mulheres negras bauruenses, em diferentes segmentos da sociedade, entre elas Elisabeth de Oliveira Bonfim, assistente social do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC/Centrinho) da USP.
São elas: Esthefania Roberta de Oliveira (PCD), Márcia de Abreu Mathias (Líder Comunitária), Cleonice Viana Celestino (Educação), Elisabeth de Oliveira Bonfim (Saúde), Fátima Elizabeth Bastos de Oliveira (Assistência Social), Jessica Alexandre Pedro (Afro Empreendedora), Thaisa Moura Barcelo (Thaisa Barcellos – Comunicação), Joelma Maria de Moura Rodrigues (Jô Moura – Arte e Cultura), Greice dos Santos Luiz (Comércio), Agnes Analua Barbosa (Mulher Trans), Dafne Geovana Pereira (Esporte) e Helena Aparecida da Silva (mãe Helena de Obá – religião de Matriz Africana/Afro Brasileira).
A premiação tem como objetivo dar visibilidade à trajetória, vida e atuação cotidiana das homenageadas no enfrentamento às discriminações por uma sociedade mais digna e igualitária.
Discurso e trajetória
Em seu discurso, Elisabeth ressaltou que sua primeira inspiração e exemplo de mulher guerreira é sua querida mãe, Angela. “Ficou viúva aos 44 anos de idade e com nove filhos crianças e adolescentes. Ela não enxergou a vida como um fardo, mas sim como uma grande oportunidade, com muito desafios a serem vencidos. Sempre com resiliência, nos educando. Incentivou todos a estudar, enfatizando a espiritualidade. E com ela aprendi a lutar pelos meus direitos e ter a liberdade para estar onde eu quisesse”, relatou.
“Inspirada por várias guerreiras, escolhi a minha profissão, assistente social, que me dá a oportunidade de estar junto com cada ser humano, lutando pela defesa dos cidadãos e pelos seus direitos. E minha trajetória na área da saúde no Centrinho me dá a oportunidade e a alegria de colher bons frutos. São muitas histórias de pacientes emancipados, que superaram bullying, preconceito, racismo, e que hoje estão reabilitados e têm ótima autoestima, enfrentando os desafios e conseguindo seus espaços na sociedade”, completou.
Nascida em Bauru, filha de Fernandes Pereira de Oliveira e Angela Marcondes de Oliveira, Elisabeth de Oliveira Bonfim é graduada em Serviço Social pela Instituição Toledo de Ensino (ITE), tem especialização em Saúde e Reabilitação e é mestre em Serviço Social pela Unesp de Franca (SP).
Fez carreira como assistente social no HRAC-USP. Seu trabalho na área da saúde é pautado na defesa dos direitos sociais dos cidadãos. Atua também como tutora na formação dos alunos residentes e estagiários, realizando orientações nas produções científicas e ministrando palestras.
Quem foi Tereza Benguela
Tereza Benguela viveu no século XVIII e foi casada com José Piolho, que chefiava o Quilombo do Piolho até ser assassinado por soldados do Estado. O Quilombo do Piolho também era conhecido como Quilombo do Quariterê (a atual fronteira entre Mato Grosso e Bolívia). Esse quilombo foi o maior do Mato Grosso. Com a morte de José Piolho, Tereza se tornou a líder do quilombo, e, sob sua liderança, a comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por duas décadas.
O Quilombo do Quariterê abrigava mais de 100 pessoas, com destacada presença de negros e indígenas. Tereza navegava com barcos imponentes pelos rios do pantanal. E todos a chamavam de “Rainha Tereza”.
O Quilombo, território de difícil acesso, foi o ambiente perfeito para Tereza coordenar um forte aparato de defesa e articular um parlamento para decidir em grupo as ações da comunidade, que vivia do cultivo de algodão, milho, feijão, mandioca, banana, e da venda dos excedentes produzidos.
A rainha Tereza comandou a estrutura política, econômica e administrativa do quilombo, mantendo um sistema de defesa com armas trocadas com os brancos das vilas próximas. Os objetos de ferro utilizados contra a comunidade negra que lá se refugiava eram transformados em instrumentos de trabalho, visto que dominavam o uso da forja.
Não se tem registros de como Tereza morreu. Uma versão é que ela se suicidou depois de ser capturada por bandeirantes a mando da capitania do Mato Grosso, por volta de 1770, e outra afirma que ela foi assassinada e teve a cabeça exposta no centro do Quilombo.
O Quilombo resistiu até 1770, quando foi destruído pelas forças de Luís Pinto de Sousa Coutinho. A população na época era de 79 negros e 30 índios.
(Com informações da Prefeitura Municipal de Bauru)