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Recessão gengival, como reconhecer, prevenir e tratar

Pesquisadores da área de Periodontia, níveis de mestrado e doutorado, da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo estão convidando pessoas com recessão gengival -raiz do dente exposta- para participar de uma pesquisa voltada ao aperfeiçoamento das formas de tratamento. Na foto, exemplo de recessão gengival múltipla.

Recessão gengival ou exposição da raiz do dente. Muitos dos que possuem este problema bucal nem sabem que os têm ou sabem e não conhecem as formas de tratamento ou, para quem ainda possui uma gengiva saudável, quer evitá-lo. Qual, então, é o melhor jeito de reconhecê-lo, quais as causas predominantes, as melhores práticas de prevenção e, enfim, como se dá o tratamento?

Para dirimir essas e outras dúvidas e saber um pouco mais sobre recessão gengival, conversamos com a coordenadora da pesquisa, a professora Mariana Schutzer Ragghianti Zangrando, associada da Disciplina de Periodontia da FOB-USP.

Escovação pesada, uso de aparelho e gengiva fina estão entre as principais causas

– Quais as principais características da recessão gengival?
A recessão da gengiva é quando ocorre uma exposição da raiz do dente, pois a gengiva desce (considerando a parte de baixo da boca) ou sobe (considerando a parte de cima). Em algumas situações, ocorre comprometimento estético e também sensibilidade na raiz exposta. Além disso, a raiz exposta na boca pode ter cárie ou ir sendo desgastada ao longo do tempo.

– Como surge, quais são as principais causas?

Diferentes fatores podem ocasioná-la. Na população brasileira há uma porcentagem grande de indivíduos com recessão gengival pela presença de doenças periodontais (acúmulo de placa e cálculo nos dentes e danos na gengiva e no osso que segura o dente) e pelo uso do cigarro. Além disso, também é comum observarmos em pacientes com gengiva fina e/ou escovação traumática (muita força para escovar ou uso de escovas com cerdas médias e duras). Outro exemplo são pacientes que usam aparelho ortodôntico. Dependendo do movimento do dente na boca pela ortodontia, as recessões podem aparecer.

– Quais dentes são mais atingidos?
Todos os dentes podem ser afetados pelas recessões gengivais, dependendo muito de características anatômicas de cada indivíduo. Porém, existe uma porcentagem maior de recessões em áreas de pré-molares e caninos.

– Existe algum período da vida com mais incidência?
As recessões gengivais têm uma tendência a aumentar com o passar dos anos, sendo assim o fator idade também influencia. Desta forma, é mais comum observarmos recessões gengivais em indivíduos mais velhos comparados aos jovens. Mas jovens também podem ser acometidos dependendo dos fatores citados anteriormente.

Recessão gengival e autoestima

– Quais os danos à saúde e à qualidade de vida?
As queixas mais comuns dos pacientes com recessões são: a estética, pois quando esta recessão aparece nos dentes da frente, o dente fica com aparência alongada (maior), expondo a raiz do dente; sensibilidade, pois com a raiz do dente exposta o paciente relata sensibilidade com frio ou alimentos ácidos; dificuldade na escovação, a recessão gengival além de causar a exposição da raiz pode também estar acompanhada de um tecido gengival muito delgado que pode doer durante o ato de escovação.

– A recessão gengival também pode afetar no aspecto psicológico, então?

Sim, a recessão pode causar uma queixa estética e interferir na autoestima. Em estudos que o nosso grupo de pesquisa da FOB (USP) realizou demonstrou-se que a presença da recessão afeta a qualidade de vida como um todo e que após procedimentos cirúrgicos para tratar a recessão a qualidade de vida aumentou.

– Limpeza dentária (com jatos de água/sal, em especial procedimentos antitártaro) pode trazer riscos?
Especificamente, nos casos de pacientes com doenças periodontais e que apresentem fatores como gengiva mais delgada, os procedimentos de raspagem e alisamento radicular para controlar a doença, podem causar como consequência a recessão gengival. Mas aqui, vale uma atenção especial. O tratamento periodontal devolve saúde bucal ao paciente e não podemos deixar de realizar estes procedimentos para evitar recessões da gengiva. O ganho com o tratamento será muito maior.

– E em situações contrárias a recessão gengival (dente parece maior), ou seja, quando o paciente acha seus dentes muito pequenos e curtos?
Nestes casos a periodontia também pode atuar através de procedimentos para tirar esse “excesso tecidual”, por meio de procedimento cirúrgico denominado aumento de coroa clínica estética.

Devolução da estética do sorriso

– Em que consiste este procedimento, quando é recomendado?

É um procedimento cirúrgico que irá remover o excesso de gengiva sobre o dente e em alguns casos também o excesso de osso que está embaixo deste aumento gengival. Como consequência os dentes aparecem mais no sorriso, devolvendo a estética. É recomendado em casos que o paciente se queixa de sorriso gengival e que a cirurgia periodontal está indicada. Lembrando que existem outras formas indicadas para o tratamento dependendo do caso como: cirurgias ortognáticas (nível hospitalar) e ortodontia.

– Quais as vantagens e riscos deste procedimento?

As vantagens são a devolução da estética do sorriso e, em alguns casos, uma maior facilidade para limpar os dentes e remover placa bacteriana. Quando bem planejado e executado, não há riscos. Os riscos são os mesmos de qualquer outro procedimento cirúrgico odontológico como eventual sangramento, inchaço e dor pós-operatória. Porém, ao seguir a recomendação do dentista dos cuidados após a cirurgia, o paciente costuma passar muito bem.

– O que recomenda para ações preventivas?
Na verdade, a orientação é aquela já bem conhecida por todos, visitar o seu dentista regularmente. Essa é a melhor forma de prevenção, pois o dentista, especificamente o periodontista, poderá avaliar sua condição bucal e se detectar alguma alteração será precocemente. Quando antes detectar alguma alteração, melhor o resultado do tratamento. No caso das recessões de gengiva, quanto mais o paciente demora para procurar o tratamento, mais a recessão pode aumentar, ficando cada vez mais difícil de alcançar um resultado bom.

Voluntários podem participar da pesquisa

Para participar voluntariamente da pesquisa, que inclui tratamento aos selecionados, é necessário que o interessado além de possuir recessões gengivais, esses dentes não devem ter pus e nem estar amolecidos. A pessoa deve também apresentar boa higiene da boca e não ser fumante.

Os interessados podem entrar em contato, pelo WhatsApp, com as pesquisadoras Mariana Calefi 19 982113391 ou Carolina Sementilli 14 981599371 para agendar a avaliação na Clínica II da FOB-USP. Endereço: Alameda Dr. Octávio Pinheiro Brisolla, 9-75, Vila Universitária, Bauru (SP).

Sob coordenação da professora Mariana, participam do estudo na área de Periodontia do Programa de Pós-Graduação da FOB-USP intitulado “Avaliação do uso da Ftalocianina em pós-operatórios de enxertos de tecido conjuntivo subepitelial: Análise imunológica, clínica e somatosensorial das áreas receptoras e doadoras”.

Integram a pesquisa, além da professora Mariana (coordenadora), o professor Leonardo Bonjardim e as alunas de mestrado Maria Carolina Sementilli e Mariana Calefi e os alunos de doutorado Caique Andrade e Rafael Cavallieri.

Breve currículo

A pesquisadora Mariana Schutzer Ragghianti Zangrando é professora associada da disciplina de Periodontia da FOB-USP, membro permanente do corpo docente do curso de Pós-graduação da FOB-USP, professora do curso de Especialização em Periodontia FOB-USP, mestre em Periodontia pela FOB-USP e doutora em Periodontia pela FOUSP (São Paulo).

Zangrando também é autora do livro “LINK- A Periodontia integrada às especialidades odontológicas”, lançado em 2022, juntamente com os professores Carla Damante, da Periodontia da FOB-USP, e Flávio Amado, da Implantodontia do HRAC-USP.

O livro, publicado pela editora Santos, destaca, principalmente, os aspectos da relação da Periodontia com as diferentes especialidades odontológicas. Sendo assim, é uma obra que atende aos alunos de graduação, pós-graduação e especialistas em diferentes áreas como: a própria Periodontia, Implantodontia, Dentística, Prótese, Ortodontia e Endodontia. Além disso, aborda temas atuais como recursos digitais e o periodonto como elemento da saúde sistêmica. O livro conta com a participação de autores das diferentes especialidades de grandes centros de excelência como: FOB, HRAC, FOUSP, FORP-USP, PUC-PR, UFMG, entre outros.

Luís Victorelli (MTb 21.656)