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Aplicativo da OMS que permite triagem auditiva rápida, simples e gratuita agora está disponível em português brasileiro

Desenvolvimento do app contou com a colaboração de pesquisadores da USP Bauru e o lançamento oficial da versão em língua portuguesa acontece nesta sexta-feira, 27/6


Está disponível para toda a população, desde o início de junho, em língua portuguesa, o aplicativo
hearWHO, uma ferramenta gratuita da Organização Mundial da Saúde (OMS) que permite a realização de triagem auditiva de forma rápida, simples e acessível por qualquer indivíduo, por meio de dispositivos móveis. O desenvolvimento do app, a validação e a tradução para o português contaram com a colaboração de pesquisadores da USP Bauru.

O lançamento da versão em português brasileiro do hearWHO acontece nesta sexta-feira, 27 de junho, a partir das 10h, com transmissão pelo YouTube. O evento on-line marca a chegada oficial do aplicativo ao Brasil e contará com a participação de representantes da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), Ministério da Saúde, Universidade de São Paulo, Conselho Federal e Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, Academia Brasileira de Audiologia, além dos pesquisadores brasileiros e do exterior envolvidos.

Deborah Viviane Ferrari, professora do Departamento de Fonoaudiologia da FOB-USP e membro do conselho consultivo da OMS para o desenvolvimento do aplicativo hearWHO. Foto: Tecnologia Educacional/FOB-USP

“A principal vantagem do hearWHO em português é a democratização do acesso à triagem auditiva, o que é essencial em um país tão diverso e desigual como o Brasil. O aplicativo permite que qualquer pessoa, em qualquer região, possa verificar o status de sua audição usando apenas um celular e fones de ouvido, de forma gratuita e acessível”, destaca Deborah Viviane Ferrari, professora do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB-USP) e membro do conselho consultivo para o desenvolvimento do aplicativo – lançado em 2019, inicialmente em inglês.

“O hearWHO ajuda na detecção precoce de perdas auditivas, o que é fundamental para o tratamento precoce e para evitar prejuízos na comunicação, no contato social, no trabalho e na qualidade de vida. Quando a pessoa obtém um resultado alterado, o app indica que ela pode ter um problema auditivo e já informa que o indivíduo pode procurar a Unidade Básica de Saúde mais próxima”, completa a pesquisadora. No âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), a partir dos cuidados iniciais na Atenção Primária à Saúde, o paciente é encaminhado para avaliação audiológica em serviço de referência e, se confirmada a perda auditiva, receber o tratamento adequado.

Deborah ressalta que o aplicativo também oferece uma ferramenta útil para campanhas públicas e ações de extensão, contribuindo para a promoção da saúde auditiva, a conscientização sobre sua importância ao longo da vida e a redução das desigualdades regionais no acesso ao cuidado. “O app reforça o papel da Fonoaudiologia brasileira em iniciativas de saúde digital de impacto global, com potencial para beneficiar não só o Brasil, mas também outros países de língua portuguesa”, considera.

A docente acrescenta ainda que a versão em português do hearWHO é uma das duas em um idioma não oficial da OMS – a outra é a versão em holandês -, o que coloca o Brasil em posição de destaque internacional na promoção do acesso à saúde auditiva, especialmente nos países lusófonos. Os seis idiomas oficiais adotados pela OMS são: árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e russo.

O hearWHO está disponível nas lojas de aplicativos App Store e Google Play.

Tela inicial do aplicativo. Crédito: Reprodução/App hearWHO

Como funciona?
A professora Deborah explica que o hearWHO utiliza o Teste de Dígitos no Ruído (TDR), um procedimento validado cientificamente para triagem auditiva, que pode ser realizado de forma fácil e rápida – em menos de cinco minutos -, por meio de um smartphone com fones de ouvido, em qualquer ambiente silencioso.

O teste apresenta áudios com 23 conjuntos de três dígitos, junto com ruído de fundo, e o usuário do aplicativo deve responder os números que escutou. Essa triagem determina a relação sinal/ruído, que indica a habilidade auditiva do indivíduo. Método padrão para o desenvolvimento de testes de dígitos no ruído em diversos países, essa abordagem com 23 conjuntos de dígitos gera dados comparativos e garante um número suficiente de tentativas para um limiar confiável de recepção da fala. De acordo com os estudos que embasaram o desenvolvimento da ferramenta, com relação à precisão, o teste demonstrou sensibilidade e especificidade de mais de 85%.

É importante enfatizar que, mesmo podendo ser realizada pela população em geral com 18 anos ou mais, a verificação da audição por meio do hearWHO não substitui o diagnóstico e a orientação de um profissional de saúde.

Trabalho colaborativo
A versão do TDR em português que o aplicativo utiliza foi desenvolvida em parceria pelo Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da Universidade de São Paulo (USP), Departamento de Fonoaudiologia e Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (Lais) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e Departamento de Fonoaudiologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

A colaboração da USP Bauru neste projeto teve início no ano de 2017, quando as fonoaudiólogas Deborah Viviane Ferrari (FOB-USP), Sheila Andreoli Balen (UFRN) e Hannalice Gottschalck Cavalcanti (UFPB) – juntamente com estudantes de pós-graduação e graduação – conduziram diferentes pesquisas para a validação do TDR para o português brasileiro. Os estudos contaram com o apoio dos pesquisadores Cas Smits, criador do TDR (Universidade de Amsterdã UMC, Países Baixos), e De Wet Swanepoel, que adaptou o TDR para um aplicativo de dispositivos móveis (Universidade de Pretória, África do Sul).

“A versão em português do hearWHO foi fruto de um trabalho científico e colaborativo entre universidades públicas brasileiras, com o apoio de parceiros do exterior, com quem trocamos muito conhecimento. O desenvolvimento dos estímulos sonoros para o português brasileiro exigiu diferentes cuidados técnicos e o teste foi validado por diferentes estudos e dissertações de mestrado. Esse processo formativo e coletivo foi o que tornou possível entregar uma versão de qualidade, alinhada aos padrões da OMS e com potencial de grande impacto na saúde auditiva da população brasileira”, avalia Deborah.

Rede ReabLITA
A docente do Departamento de Fonoaudiologia da FOB-USP ressalta ainda que o trabalho em conjunto deu origem a um grupo maior de pesquisadores, com atuação mais abrangente, chamado Rede ReabLITA (Rede Aberta de Laboratórios Inovadores em Tecnologias Assistivas para Audição).

“Ampliamos as pesquisas com o Teste de Dígitos no Ruído (TDR), envolvendo não apenas o hearWHO, mas a aplicação do teste em outros contextos da audiologia, como parte da bateria de diagnóstico audiológico e para avaliação dos resultados do tratamento. Os estudos envolverão o desenvolvimento de outros aplicativos e tecnologias para estas finalidades, e incluem projetos financiados pelo Decit [Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde], CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico] e Finep [Financiadora de Estudos e Projetos]”, explica Deborah.

Além de pesquisadores da FOB-USP, UFRN e UFPB, a Rede reúne ainda parceiros da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e de universidades do exterior e conta com o apoio da OMS.

A proposta da Rede ReabLITA é desenvolver soluções inovadoras e acessíveis para promover o cuidado à saúde auditiva, com foco em novas abordagens para triagem auditiva e materiais de educação em saúde que possam melhorar o diagnóstico, a prevenção e a reabilitação auditiva para indivíduos de todas as idades, e com um grande potencial de impacto para a saúde pública no Brasil e em outros países.

Para se ter uma ideia do público que poderá ser beneficiado com essas iniciativas e tecnologias só aqui, a pesquisadora destaca estudo de base populacional realizado no sul do Brasil que aponta que 26,1% da população apresentava algum grau de perda auditiva e 6,8% perda auditiva incapacitante, isto é, com impacto significativo na comunicação e na qualidade de vida, precisando de tratamento – sendo que 5,4% das pessoas tinham perda auditiva moderada; 1,2%, severa; e 0,2%, profunda. A pesquisa identificou ainda que os grupos com maior risco de desenvolver perda auditiva foram: homens, pessoas com 60 anos ou mais e indivíduos com menor escolaridade e renda.

Ação de triagem auditiva e educação em saúde realizada em Agudos por estudantes, profissionais e docentes de Fonoaudiologia da FOB-USP, em junho. Foto: Lucas Vieira/USP

Primeira cidade a implementar o app
Durante este mês de junho, o Departamento de Fonoaudiologia da FOB-USP também organizou ações de campo em Agudos – cidade vizinha a Bauru -, em articulação com a Secretaria Municipal de Saúde local, para incentivar o uso do aplicativo pelos profissionais de saúde, agentes comunitários e população e para sensibilizar a comunidade sobre a importância do cuidado auditivo desde as fases iniciais da vida. O município foi o primeiro a implementar a utilização do hearWHO no âmbito da Atenção Primária à Saúde do SUS.

As ações ocorreram em duas unidades de saúde de Agudos – ESF João Damásio Machado e ESF Moussa Nakhal Tobias -, com a participação de docentes, fonoaudiólogas, graduandos e pós-graduandos de Fonoaudiologia e a realização de exames naqueles que tiveram resultado alterado na triagem auditiva, nas duas Unidades Móveis de Avaliação Audiológica da USP Bauru levadas para a cidade vizinha.

Docentes, profissionais e autoridades da USP Bauru e da Secretaria de Saúde e Prefeitura Municipal de Agudos. Foto: Prefeitura de Agudos

Segundo o secretário municipal de Saúde de Agudos, Altair Francisco Silva, a parceria com a USP está sendo muito importante e o uso do aplicativo na Saúde de Agudos é algo pioneiro. “Acredito que vamos ajudar muitas pessoas com este projeto. Nossa equipe ficou empolgada, pois o uso do aplicativo vai facilitar o atendimento da população e certamente fará uma diferença enorme para aqueles que precisam. Quero agradecer a equipe da USP, nossos colaboradores e também ao prefeito Rafael Lima, que tem dado todo o apoio a esse projeto”, pontua o secretário.

Para Juliana Lopes de Mello, agente comunitária de saúde de Agudos (SP), as aulas, dinâmicas, bem como visitas domiciliares aos pacientes e acompanhamento de diferentes casos realizados neste mês de junho foram uma excelente oportunidade para adquirir novos conhecimentos. “Essa experiência com a equipe de Fonoaudiologia da FOB-USP enriqueceu nossa formação profissional e pessoal, modificando também a nossa visão sobre a fonoaudiologia e a forma como ela é aplicada”, relata.

Lançamento nacional
Com transmissão pelo YouTube, o lançamento nacional do hearWHO em português ocorre nesta sexta-feira, 27 de junho, a partir das 10h.

A abertura do evento, que será on-line, contará com a participação das seguintes autoridades: Ana Estela Haddad, secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde (MS) e docente da Faculdade de Odontologia (FO-USP); Sonia Isoyama Venancio, coordenadora-geral de Atenção à Saúde das Crianças, Adolescentes e Jovens do MS; Luane Carvalho Costa, assessora técnica da Coordenação-Geral de Saúde da Pessoa com Deficiência do MS; Carlos Ferreira dos Santos, vice-diretor da FOB-USP; Antônio de Lisboa Lopes Costa, diretor do Centro de Ciências da Saúde da UFRN; Evandro Leite de Souza, pró-reitor de Pós-Graduação da UFPB; Silvia Tavares de Oliveira, presidente do Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFFa); Ingrid Gielow, presidente da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa); e Cilmara Cristina Alves da Costa Levy, vice-presidente da Academia Brasileira de Audiologia (ABA).

Já a programação científica abordará temas como a ampliação do aplicativo hearWHO e a inclusão do português brasileiro, com João Marcello Fortes Furtado, consultor de Saúde Sensorial da OPAS/OMS e docente da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP); Teste de Dígitos no Ruído para triagem auditiva, com Cas Smits, criador do TDR e docente da Universidade de Amsterdã UMC (Países Baixos); hearWHO e saúde auditiva comunitária; com De Wet Swanepoel, pesquisador que adaptou o TDR para dispositivos móveis e docente da Universidade de Pretória (África do Sul); e TDR em Português Brasileiro, com as pesquisadoras Deborah Viviane Ferrari (FOB-USP), Sheila Andreoli Balen (UFRN) e Hannalice Gottschalck Cavalcanti (UFPB).

Os interessados em participar do evento devem fazer sua inscrição gratuita neste link. Haverá emissão de certificado para os participantes inscritos.