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‘É nosso dever como cientistas ter forte interlocução com jornalistas’, enfatiza pró-reitor de Pesquisa e Inovação da USP

Para Paulo Nussenzveig, pesquisadores e comunicadores têm responsabilidades para informar de maneira adequada os novos conhecimentos à sociedade

Paulo Nussenzveig, pró-reitor de Pesquisa e Inovação, e Marcia Blasques, jornalista da SCS-USP, durante a aula ‘Por que e como divulgar a ciência (casos que ensinam, sejam anedóticos, pitorescos ou revolucionários)’. Crédito: Reprodução/YouTube TV USP


Por Tiago Rodella*

A relação entre cientistas e jornalistas, por vezes, é marcada por certa tensão. De um lado, pesquisadores temerosos de que os resultados dos seus estudos, desenvolvidos com rigor durante anos, sejam simplificados demais ou distorcidos. De outro, comunicadores – que têm espaço e tempo limitados para a produção e veiculação das notícias – diante de novos conhecimentos e terminologias difíceis, buscando transmitir conceitos e informações corretas e em uma linguagem de fácil entendimento.

“A linguagem da academia deve ser, por definição, universal. Entretanto, os artigos científicos são, muitas vezes, impenetráveis. Precisamos nos responsabilizar como atores desse processo de comunicação universal. É nosso dever como cientistas ter forte interlocução com jornalistas. Temos a responsabilidade de fazer uma parte do caminho para que a sociedade possa ter conhecimento da ciência produzida na academia”, enfatizou Paulo Nussenzveig, pró-reitor de Pesquisa e Inovação da Universidade de São Paulo e professor do Instituto de Física (IF) da USP, em aula que encerrou o curso Divulgação científica para comunicadores e jornalistas, no último dia 3 de novembro.

Resultado de uma parceria entre a Escola de Comunicações e Artes (ECA), a Superintendência de Comunicação Social (SCS) e o Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, o curso contou com a participação de 300 comunicadores.

Pesquisa e inovação responsável
Citando o Guia de Boas Práticas Científicas, elaborado pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI) da USP, Nussenzveig lembrou que “o conceito de pesquisa e inovação responsável implica em uma compreensão suficiente dos conceitos científicos e tecnológicos em desenvolvimento, por todas as partes envolvidas, que permita um debate adequado na sociedade para formulação de políticas públicas”.

Para o pró-reitor, “o trabalho dos jornalistas divulgadores de ciência é absolutamente imprescindível” neste contexto.

Ciência não precisa ser enfadonha
Nussenzveig destacou também que a redação científica e a comunicação oral não precisam ser enfadonhas. Correlacionando como ciência e cultura se conectam e se realimentam, o professor assinalou que “apresentar um novo conhecimento usando referências culturais pode fazer a diferença para propagar e tornar memoráveis as ideias da ciência”.

Um exemplo mencionado por ele foi a comunicação dos resultados de pesquisas sobre resfriamento de átomos por luz laser por dois grupos distintos. O grupo dos Estados Unidos utilizou um método matemático, enquanto o grupo francês apresentou uma imagem física que representava o movimento dos átomos subindo e descendo colinas de potencial. “Para denominar esse processo, o grupo francês fez referência a Sísifo, da mitologia grega, que foi condenado a rolar uma rocha montanha acima e, a cada vez que chegava ao topo, a rocha caía e ele precisava começar tudo de novo. Essa conexão de um mecanismo físico com uma imagem cultural levou a uma perenização do conhecimento, e hoje toda a comunidade se refere a esse mecanismo como Resfriamento Sísifo”, ilustra.

Nussenzveig mencionou ainda exemplos de seções finais dos artigos que trazem senso de humor e que podem ajudar a cativar o público, como agradecimentos que incluem lema de time de futebol e até mesmo pedido de casamento.

Marília Buzalaf, diretora da FOB-USP e pesquisadora. Foto: STE/FOB-USP

Parceria que transforma
Para Marília Buzalaf, diretora da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP, a divulgação científica é uma responsabilidade essencial de todos aqueles que fazem pesquisa em uma universidade pública. “Produzimos conhecimento que só cumpre plenamente seu papel quando chega à sociedade de forma acessível, contextualizada e correta”, considera.

“O diálogo com profissionais de comunicação bem preparados e interessados em compreender o rigor científico nos ajuda a traduzir achados complexos em informações úteis para o público”, avalia a professora, que está entre os pesquisadores mais influentes do mundo segundo ranking recente.

“Acredito que o pesquisador precisa estar disposto a se comunicar e a compreender o papel estratégico da imprensa na construção de uma cultura científica. Ao mesmo tempo, o jornalista tem a responsabilidade de transmitir as informações com precisão e em linguagem acessível, sem perder a essência do conhecimento produzido. A escuta e o respeito mútuo entre cientistas e comunicadores são fundamentais, e é dessa parceria que nasce uma ciência mais próxima das pessoas e capaz de transformar realidades”, conclui.

Guia de comunicação
Saiba mais sobre os caminhos para transformar a ciência em notícia e a estrutura de comunicação da USP no guia De cientista para jornalista – noções de comunicação com a mídia, de autoria das jornalistas Luiza Caires e Aline Naoe.


*Tiago Rodella é
jornalista da Assessoria de Comunicação do Campus USP de Bauru. Reportagem elaborada como trabalho de conclusão do curso Divulgação científica para comunicadores e jornalistas, com informações da aula “Por que e como divulgar a ciência (casos que ensinam, sejam anedóticos, pitorescos ou revolucionários)”.