Cenário com primeiros socorros em motociclista acidentado foi a primeira atividade desenvolvida com os estudantes no Núcleo de Educação e Capacitação em Saúde da USP-Bauru
Motociclista caído no chão, gritando de dor e com dificuldade para se movimentar. Sangue, feridas e traumas múltiplos. Cheiro de gasolina. Pedestres em desespero. Cenário caótico. Uma ação simulada nesta quarta-feira, 06 de junho, serviu para os estudantes do curso de Medicina da USP-Bauru aprenderem quais os procedimentos iniciais e primeiros socorros numa situação como essa.
Essa foi a primeira atividade desenvolvida com os alunos no Núcleo de Educação e Capacitação em Saúde (Necs) do campus, que propicia aos estudantes de Medicina experiência prática próxima da real já no primeiro semestre de curso – e não somente nos anos posteriores, como ocorre normalmente nas metodologias de ensino tradicionais.
“Este é um Núcleo feito para que possamos trabalhar as questões de segurança do paciente. Nele podemos antecipar o que os estudantes vão fazer na prática, num ambiente seguro, controlado, para que se possa errar, parar, voltar, treinar repetidas vezes, até o aluno estar suficientemente competente para exposição do paciente”, explica o professor Gerson Alves Pereira Júnior, vice-coordenador do curso de Medicina da USP-Bauru.
Docente do curso de Medicina da USP-Bauru e da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP-USP), a professora Alessandra Mazzo completa que, como são estudantes do primeiro ano, eles ainda não irão realizar procedimentos invasivos no Núcleo. “Nesse primeiro momento, os alunos irão aprender a fazer o reconhecimento de uma situação de urgência, o primeiro atendimento, a chamada por ajuda, e o acesso à Rede de Atenção às Urgências”, frisa a professora, que é uma das coordenadoras do Necs.
Além da participação de professores do curso de Medicina da USP-Bauru, a atividade de simulação contou com a participação de alunos de pós-graduação do campus – preparados para atuar como paciente simulado e pedestres – e também do médico Rafael Arruda Alves, diretor do Departamento de Urgência e Emergência do município.
Núcleo para a rede de saúde
Instalado em prédio dentro do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC/Centrinho-USP), o Núcleo de Educação e Capacitação em Saúde (Necs) tem como finalidade educar os estudantes da área da saúde e capacitar, de forma permanente, docentes e profissionais da rede municipal e estadual de saúde de Bauru e região, como contrapartida da USP para o desenvolvimento local e regional em educação e saúde.
“No contexto de interação constante entre a Universidade e o Sistema Único de Saúde, o SUS, a educação e a capacitação permanente de docentes, estudantes e profissionais dos serviços são os melhores recursos para diminuir a variabilidade de práticas e de resultados e, portanto, melhorar a relação custo efetividade da atenção à saúde”, destacou o professor José Sebastião dos Santos, coordenador do curso de Medicina da USP-Bauru e atual superintendente do HRAC-USP, na inauguração do Núcleo, em dezembro de 2017.
Segundo a professora Alessandra Mazzo, a partir do segundo semestre de 2018, o Necs também poderá ser utilizado pelos estudantes de Odontologia e Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB-USP), residentes e profissionais do HRAC-USP e também da rede municipal e estadual de saúde de Bauru. “O planejamento de capacitações específicas será realizado em conjunto entre o curso de Medicina da USP e a rede pública de saúde, de acordo com as necessidades locais. Essa é uma contribuição da USP para potencializar e aprimorar a atenção em saúde em Bauru e região”, afirma.
“Vamos trabalhar aqui com médicos, enfermeiros, as equipes de atendimentos de urgência e também eletivos da rede de saúde. O objetivo é oferecer capacitação para esses profissionais, inclusive para mudanças e aperfeiçoamento do processo de trabalho da rede, que nós vamos colaborar como Universidade”, acrescenta o professor Gerson Alves Pereira Júnior.
“Com a vinda do curso de Medicina, estamos discutindo, juntamente com todos os cursos da área da saúde de Bauru e sob a liderança da Secretaria Municipal de Saúde, os Contratos Organizativos de Ação Pública Ensino-Saúde (Coapes), para uma melhor organização do trabalho da rede. E o Necs é uma parte importante nesse processo, na contrapartida que a USP vai dar para a rede, para que possamos melhorar a qualidade do atendimento à população”, reforça. As diretrizes do Coapes foram instituídas pela Portaria 1.127/2015, dos Ministérios da Educação e da Saúde, para o fortalecimento da integração entre ensino, serviços e comunidade no âmbito do SUS.
Estrutura de ponta
O Necs conta com toda a ambientação para simulação clínica, e será muito importante para antecipar e treinar as atividades que os estudantes irão realizar nos diversos serviços de saúde. “Serão treinadas várias habilidades e competências dos estudantes de Medicina dentro do laboratório (in vitro), num ambiente simulado bem próximo à realidade, para que possam executar bem as atividades práticas nos serviços de saúde (in vivo). Inicialmente, as atividades serão realizadas com pacientes simulados – normalmente estudantes de outra área capacitados para tal atividade –, devidamente caracterizados, com feridas, secreção, inclusive cheiro”, relata Alessandra Mazzo.
A professora pontua que o Núcleo é composto por grandes salas onde são trabalhadas as habilidades – a prática dos procedimentos –, como punções, curativos, suturas ou a administração de medicamento, por exemplo. Também existem salas voltadas para a simulação avançada, consultórios e enfermarias para capacitação de atividades práticas que serão aplicadas dentro de um contexto, como uma unidade de saúde, unidade de pronto atendimento ou hospital, dependendo da situação a ser aprendida. “Divide-se, portanto, em ambientes para treino de habilidades e para desenvolvimento de cenários simulados”, ressalta.
De acordo com o professor Gerson Alves Pereira Júnior, já há um planejamento para incrementar o Necs com equipamentos e simuladores de ponta, e também para ampliar a área física desse espaço, com previsão de novidades para meados do segundo semestre de 2018.
Metodologia diferenciada
Um grande diferencial do curso de Medicina da USP-Bauru é sua organização a partir de metodologias ativas de ensino-aprendizagem. A atividade simulada com acidentado, por exemplo, faz parte do módulo Primeiros Socorros, integrante do ambiente de ensino Laboratório de Habilidades e Simulação, que tem como docentes responsáveis Alessandra Mazzo e Gerson Alves Pereira Júnior (nas metodologias ativas existem ambientes de ensino integrados e não disciplinas).
“No Necs [que integra o ambiente de ensino Laboratório de Habilidades e Simulação], utilizamos o que chamamos de sala de aula invertida. Os alunos recebem vídeos e textos para estudarem antes e fazer uma avaliação dos diferentes cenários. Podemos até fazer avaliação on-line prévia. Então eles vêm aqui para tirar as dúvidas e fazer as atividades práticas. Nesse processo, eles já chegam com perguntas absolutamente pertinentes, aproveitando melhor o tempo presencial, que é muito valioso”, enfatiza o professor Gerson Alves Pereira Júnior.
Essa metodologia diferenciada, a atividade simulada e o novo espaço de aprendizado são valorizados pela estudante Bianca Santa Maria, do curso de Medicina da USP-Bauru. “Eu não esperava toda essa estrutura e equipamentos. Foi muito legal ver a disponibilidade de materiais que temos aqui e a possibilidade de aprendizado que teremos durante todo o desenvolvimento do curso. Já tínhamos estudado como deveríamos agir e agora é muito bom colocar em prática o conhecimento trabalhado através dos vídeos e da teoria”, afirma a aluna.
“Acho muito importante a gente treinar agora e já saber, desde o primeiro ano de Medicina, o que fazer numa situação dessas. Treinar em cenário e com paciente simulado é essencial, inclusive para já começarmos a servir a população. Num acidente real, por exemplo, eu já sei como ajudar a vítima e quais procedimentos iniciais a realizar”, vibra.
“Fiquei muito surpreendida com a metodologia ativa e da sala de aula invertida. A gente estuda em casa e tira as dúvidas aqui com o professor. Então esse momento presencial acaba sendo muito mais produtivo do que se tivéssemos a teoria aqui, e estudássemos e tivéssemos dúvidas depois em casa, onde não temos o professor para nos responder”, conclui.
Solenidade
A abertura das atividades no Núcleo de Educação e Capacitação em Saúde (Necs) foi realizada na manhã do dia 06 de junho, e contou com a participação dos professores Carlos Ferreira dos Santos, diretor da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB-USP), unidade onde está sediado o curso de Medicina; Gerson Alves Pereira Júnior, Alessandra Mazzo e Cristiano Tonello, da Medicina da USP-Bauru; além de docentes, servidores e estudantes do campus.
O diretor da FOB-USP, professor Carlos Ferreira dos Santos, destacou a importância do início das atividades no Núcleo. “Sempre dissemos que o HRAC seria a semente do curso de Medicina. Hoje temos esse Núcleo implantado em espaço dentro do HRAC, e que, inicialmente, será parte do curso de Medicina. Mas trata-se de um projeto muito ambicioso, que também vai servir aos alunos dos cursos de Odontologia e Fonoaudiologia, residentes e profissionais do HRAC, e ainda aos profissionais da rede pública de saúde municipal e estadual, que hoje já recebem os nossos alunos. Ajudar a organizar os serviços e capacitar os profissionais da rede é uma retribuição que a Universidade, como instituição pública, pode oferecer. Isso é devolver para a comunidade, profissionais e população – pois todos contribuímos com impostos –, todo o investimento público que é feito aqui”, declarou o diretor.
O professor Carlos Ferreira dos Santos reforçou ainda para que todos aproveitem bem o novo espaço, pois é um lugar que vai ser diferencial na formação e capacitação de alunos e profissionais. “Agradeço a todos os envolvidos, porque o sonho, mais uma vez, se torna realidade”, complementou.
Já o professor Gerson Alves Pereira Júnior lembrou que “projetos dão certo em terreno fértil. A ousadia do campus de Bauru de propor a criação de um novo curso de Medicina na USP, depois de tantos anos; e o entusiasmo da professora Maria Aparecida [de Andrade Moreira Machado, ex-diretora da FOB e atual pró-reitora de Cultura e Extensão Universitária da USP] e do professor Carlos [ex-vice-diretor e atual diretor da FOB] tornou possível esse grande projeto”.
Segundo o professor Gerson, o Necs será utilizado nos seis anos do curso de Medicina, com atividades numa complexidade crescente – à medida que os estudantes adquirirem autonomia para os procedimentos – e também servirá, além do ensino, para a realização de pesquisa e extensão universitária.
“Aproveito para agradecer, também em nome do professor José Sebastião [dos Santos, coordenador do curso de Medicina da USP-Bauru], a todos os professores e servidores envolvidos nesse projeto, os parceiros que encontramos e toda a acolhida que tivemos aqui”, reiterou.
Outra grande entusiasta do Necs e estudiosa das práticas em simulação, a professora Alessandra Mazzo aconselhou aos alunos a “cuidar do espaço como se fosse a própria casa, e a cultivar nele amizade, trabalho em equipe, respeito ao paciente e segurança naquilo que fazem”.
“Com toda a ampliação planejada – e mesmo como já está –, esse Núcleo, que é um espaço interprofissional, deverá será muito visitado por estudiosos do mundo inteiro. Já conheci muitos centros de simulação, e a estrutura aqui é incrível”, comemorou a professora Alessandra. Ela mencionou ainda que “a simulação tem sido colocada como um dos cinco itens para mudar a educação em saúde, por isso ela é tão importante hoje nos currículos”.
Ao final da solenidade de abertura das atividades do Necs, professores e alunos fizeram uma homenagem aos servidores do campus envolvidos na implantação do Núcleo e com as atividades do curso de Medicina. São funcionários das áreas administrativa e financeira, de engenharia, manutenção, transporte, informática e audiovisual. Eles foram apresentados aos alunos e receberam o agradecimento dos dirigentes e uma salva de palmas.
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(Reportagem e fotos: Tiago Rodella, jornalista HRAC/USP-Bauru)