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Estudo aponta necessidade de esforços governamentais para expansão de cirurgias eletivas

Imagem: Reprodução internet

Artigo foi aceito para publicação na prestigiada revista The Lancet Regional Health – Americas; outros artigos com participação de especialistas do HRAC-USP também tiveram destaque em renomados periódicos internacionais

A pandemia de covid-19 impactou significativamente os sistemas de atendimento cirúrgico em todo o mundo, causando acúmulo crescente de procedimentos cirúrgicos. Em muitos países, incluindo o Brasil, o acesso à cirurgia de emergência foi reduzido devido a mudanças na capacidade do sistema de saúde e cirurgias eletivas foram adiadas a fim de aumentar os recursos médicos disponíveis para pacientes com covid-19. Além disso, trabalhos científicos demonstraram aumento da mortalidade cirúrgica entre os pacientes com covid-19 e consenso internacional dirigido para adiar cirurgias eletivas.

Nesse contexto, um estudo coordenado pelo professor Nivaldo Alonso, chefe técnico da Seção de Cirurgia Craniofacial do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC/Centrinho) da USP-Bauru e docente de Cirurgia Plástica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP), da capital, buscou quantificar o atraso de cirurgias (tanto emergentes como eletivas) durante a pandemia de covid-19 no sistema público de saúde brasileiro, com o objetivo de fornecer subsídios para orientar a política governamental para expandir o atendimento cirúrgico durante uma crise como a do coronavírus.

De acordo com o estudo – que teve artigo aceito para publicação na prestigiada revista The Lancet Regional Health – Americas, disponível on-line desde 24/08/2021 –, como resultado da pandemia, mais de um milhão de procedimentos cirúrgicos foram adiados ou cancelados no sistema público de saúde do Brasil, com o acúmulo de cirurgias eletivas chegando a mais de 900 mil casos.

Prof. Nivaldo Alonso. Foto: Acervo HRAC (2017)

“Nossas descobertas sugerem que esforços rigorosos para reduzir a disseminação de covid-19 estarão associados a atrasos e cancelamentos reduzidos para cirurgias de emergência, mas exigirão esforços governamentais coordenados para expandir o atendimento cirúrgico para superar atrasos das cirurgias eletivas”, explica o professor Nivaldo Alonso.

O estudo indica que, para alcançar sistemas de saúde cirúrgicos resilientes como uma base essencial para a preparação e resposta eficazes às emergências de saúde, os formuladores de políticas devem buscar fortalecer vários aspectos do sistema cirúrgico brasileiro. “A expansão da força de trabalho cirúrgica é crítica, não apenas em termos de números absolutos, mas também na distribuição dos cirurgiões pelo país. Em segundo lugar, o investimento na capacidade hospitalar garante a disponibilidade de salas de operações, UTI e leitos. Terceiro, o investimento em estratégias inovadoras, como consulta de telemedicina para apoiar o cuidado pós-operatório remoto ou tratamento conservador não cirúrgico de condições cirúrgicas. Por último, diretrizes locais e regionais baseadas em evidências, a fim de orientar os sistemas hospitalares e permitir a continuação da cirurgia de emergência e urgência, ao mesmo tempo em que triam e rastreiam adequadamente os pacientes cirúrgicos eletivos”, concluem os pesquisadores.

Para a realização do estudo, as estimativas mensais de procedimentos cirúrgicos realizados por estado de janeiro de 2016 a dezembro de 2020 foram obtidas do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Também foram construídos modelos de previsão usando dados históricos de volume cirúrgico antes de março de 2020, para prever as operações mensais esperadas de março a dezembro de 2020. Os acúmulos mensais cirúrgicos totais, de emergência e eletivos, foram calculados comparando o volume relatado com o volume previsto.

O artigo é intitulado “Associação entre política governamental e atrasos no atendimento cirúrgico emergencial e eletivo durante a pandemia de COVID-19 no Brasil: Um estudo de modelagem”. Além da USP, o estudo contou com a colaboração de especialistas de outras universidades brasileiras e dos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Argentina.

Prof. Carlos Santos. Foto: Marcos Santos/USP Imagens (2018)

“Esta e outras importantes pesquisas têm evidenciado o trabalho de liderança realizado pelo HRAC-USP, a excelência de nossa equipe interdisciplinar e o papel da Universidade pública na busca de inovações e soluções para as demandas da sociedade”, avalia o professor Carlos Ferreira dos Santos, superintendente do HRAC-USP e diretor da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB-USP).

Imagem: Reprodução internet

Capa internacional
Na edição deste mês de setembro, o The Cleft Palate-Craniofacial Journal, periódico científico da Associação Americana de Fissura Labiopalatina e um dos mais importantes da área, apresenta em sua capa artigo da equipe do HRAC-USP.

Com o título “Preservação do globo ocular com fechamento conjuntival com cordão de bolsa para derreter úlcera da córnea em fenda facial rara”, o artigo descreve o tratamento cirúrgico de uma criança com uma fissura rara de face.

Prof. Cristiano Tonello. Foto: Denise Guimarães, FOB (2019)

O trabalho é de autoria do professor Cristiano Tonello, chefe técnico do Departamento Hospitalar do HRAC-USP e docente do Curso de Medicina da FOB-USP; Raul G. Paula, oftalmologista; Isabella P. Paula, mestranda do HRAC-USP; Rodrigo B. Nunes, doutorando do HRAC-USP; Nancy Mizue Kokitsu Nakata, chefe técnica da Seção de Genética Clínica e Biologia Molecular do HRAC-USP; e professor Nivaldo Alonso.

Segurança em cirurgias e Guinness
O HRAC-USP também participa de uma plataforma de estudos internacional sobre a covid-19 e a segurança em cirurgias. Chamada CovidSurg Collaborative, a plataforma é liderada por pesquisadores da Universidade de Birmingham (Inglaterra) e conta com a participação de mais de 142 mil pacientes, 1.600 centros e 120 países.

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A iniciativa, inclusive, foi agraciada com certificado do Guinness World Records, como o maior número de autores em um único artigo acadêmico revisado por pares: 15.025.

Os pesquisadores do HRAC-USP participantes da CovidSurg Collaborative são os professores Carlos Ferreira dos Santos, Nivaldo Alonso e Cristiano Tonello.

Essa colaboração internacional já resultou em artigos científicos publicados em 2021 que têm os pesquisadores do HRAC-USP entre os autores. O mais recente foi publicado em 24/08/2021 na revista Anaesthesia, principal periódico da área de Anestesiologia do mundo. O estudo mostrou que pacientes submetidos à cirurgia com SARS-CoV-2 têm maior risco de tromboembolismo venoso (coágulo sanguíneo formado dentro de uma veia) pós-operatório em comparação com pacientes sem histórico de infecção por SARS-CoV-2.

Outro artigo teve publicação em 24/03/2021 pelo British Journal of Surgery – prestigiado periódico de cirurgia da Europa – e demonstrou a importância da priorização da vacinação pré-operatória contra a covid-19 de pacientes que precisam de cirurgia eletiva.

E mais um artigo, publicado em 09/03/2021 também na revista Anaesthesia, concluiu que, sempre que possível, a cirurgia deve ser adiada por pelo menos sete semanas após a infecção por SARS-CoV-2.