Trabalhos apresentam resultados de dois projetos de extensão da Faculdade de Medicina de Bauru, um que busca integrar as artes e humanidades na formação médica, e outro que visa promover desenvolvimento social e de saúde em um assentamento no município

As estudantes de Medicina Vitória Silva Zaia e Kaylaine Costa Santarelli Monaco durante a 32ª Jornada de Jovens Pesquisadores, na Argentina. Foto: Divulgação
Duas estudantes do terceiro ano da Faculdade de Medicina de Bauru (FMBRU) da USP foram selecionadas por meio de chamada do Escritório Internacional da USP para apresentarem seus trabalhos na 32ª Jornada de Jovens Pesquisadores, realizada no mês de novembro na Universidad Nacional de Tucumán (UNT), na Argentina.
Realizado anualmente pela Asociación de Universidades Grupo Montevideo (AUGM), o evento reúne centenas de jovens pesquisadores das diversas áreas do conhecimento com o objetivo de promover o intercâmbio acadêmico-científico, estimulando conexões e a formação de redes de pesquisa com foco na realidade latino-americana.
O tema desta edição da Jornada – realizada de 5 a 7 de novembro – foi “Educação e Ciência Transformam Realidades”. Os dois trabalhos selecionados foram da modalidade de apresentação oral e a participação das estudantes no congresso contou com apoio e custeio da FMBRU-USP.
Artes, inclusão e pertencimento
O trabalho “Laboratório de Humanidades Médicas: Integrando Artes, Cultura e Reflexão Crítica para Inclusão e Pertencimento”, de autoria da estudante de Medicina Vitória Silva Zaia, foi selecionado para a categoria Inclusão da Jornada.
O Laboratório de Humanidades Médicas é um projeto de extensão da FMBRU-USP que busca integrar as artes e humanidades na formação médica. O projeto teve início em outubro de 2024 e, de acordo com os membros fundadores, nasceu da necessidade de incluir na formação médica aspectos sensíveis e artísticos, em busca do desenvolvimento de estratégias para que os estudantes reconheçam, valorizem e preservem a dimensão humana do cuidado na saúde, visando a criação de vínculo, suporte emocional, sensibilidade e atenção à saúde mental ao longo da graduação.
Vitória relata em seu trabalho que, por meio de um cineclube, chamado MedCine, e de um clube do livro, denominado Anamnese Literária, foram selecionadas obras com temáticas sociais universais para deliberadamente engajar alunos dos três cursos de graduação do Campus USP de Bauru: Medicina, Odontologia e Fonoaudiologia. Nesse primeiro ano do projeto, foram realizados debates em formato horizontal, que promoveram a escuta de vozes marginalizadas e a reflexão crítica sobre diversidade, preconceito e a pluralidade de experiências humanas.
“O resultado mais significativo desta abordagem foi a efetiva integração entre estudantes de Medicina, Odontologia e Fonoaudiologia, que fortaleceram o senso de comunidade e pertencimento. Nesse ambiente inclusivo, os participantes desenvolveram empatia e sensibilidade, competências cruciais para uma formação humanística na área da saúde”, conclui Vitória, que é uma das discentes que contribuíram para a criação do Laboratório de Humanidades Médicas.
São coautoras do trabalho as estudantes Ana Beatriz da Silva, Beatriz Nascimento Moreira, Beatriz Rodrigues Maciel e Luísa Farias Arenhardt. Os orientadores são os professores da FMBRU-USP Agnes de Fátima Pereira Cruvinel e Marcos Antonio Marton Filho, que também são coordenadores do Laboratório de Humanidades Médicas.
Saúde e bem-estar social em assentamento
Selecionado para a categoria Extensão Universitária da Jornada, o trabalho “Primavera: Desenvolvimento Social e de Saúde no Assentamento Vila Cristiana em Bauru” tem como autoras as estudantes de Medicina Kaylaine Costa Santarelli Monaco (autora principal) e Beatriz Coutinho Dias de Oliveira.
O Projeto Primavera foi criado em 2018 por duas alunas da primeira turma de Medicina e, sob coordenação docente, foi contemplado em 2021 por edital da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU-USP) para fomento a projetos de extensão ligados aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). Por meio do projeto, os estudantes da FMBRU-USP atuam no Assentamento Vila Cristiana, localizado no Parque Primavera em Bauru, promovendo ações de saúde e bem-estar social às cerca de 190 famílias que vivem no local.
Integrante da coordenação do projeto, Kaylaine menciona no trabalho que visitas periódicas; diálogos sobre saúde com crianças e adultos; aplicação da Medicina Narrativa como ferramenta terapêutica; conscientização da população sobre temas de saúde; desenvolvimento de habilidades de letramento médico; e promoção de momentos de lazer e capacitação estão entre as metas da iniciativa.

Integrante do Projeto Primavera em atividade com crianças na Escola Municipal de Educação Infantil de referência do assentamento
Segundo a estudante, o Projeto Primavera organiza-se em duas frentes de coordenação: Mapeamento e Levantamento de Demandas, com visitas domiciliares mensais ao assentamento, visando identificar necessidades, compreender a dinâmica familiar e promover orientações em saúde; e Atividades em Saúde, com ações educativas, oficinas, palestras e atividades culturais de acordo com as demandas locais. Cada atividade é precedida de capacitação teórica dos membros e acompanhada da produção de materiais educativos.
“Durante 2024 e 2025, o projeto atuou no Assentamento com visitas domiciliares e ações coletivas, promovendo educação em saúde da mulher, infantil, prevenção de acidentes e doenças, incluindo atividades lúdicas, rodas de conversa, teatro e a distribuição da ‘Cartilha de Acesso ao SUS’, após constatar que 20,6% dos moradores nunca haviam acessado a [Unidade Básica de Saúde] UBS local, evidenciando barreiras informacionais e logísticas. Os impactos acadêmicos foram reconhecidos em congressos, com premiação da experiência da ‘Cartilha do SUS’ no Congresso de Saúde Humanitária da [Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo] FMUSP [da capital]. A continuidade e o vínculo de longo prazo diferenciam o projeto, permitindo diagnósticos precisos e humanizando a formação discente”, aponta Kaylaine.
O trabalho tem como coautores os estudantes: Ísis Borges, Vitor Masson Santos, Vitória Silva Zaia, Maria Eduarda Sayuri R. B. Kariatsumari, Maria Eduarda Lopes Palmeira, Amanda Cristina Martins da Silva e Isabella Oliveira do Lago; e, como orientador, o professor Marcos Antonio Marton Filho, que também é coordenador do Projeto Primavera.
(Por Tiago Rodella/Comunicação USP Bauru. Fotos: Divulgação)


